sábado, 27 de junho de 2009

Doença cardiovascular é a principal causa de morte no Brasil

Entre os fatores que predispõem uma pessoa a ter um infarto estão a vida sedentária, sem a prática de exercícios físicos; alimentação industrializada, rica em gorduras; além do tabagismo


A doença cardiovascular é a principal causa de novas internações e de mortalidade no Brasil e nos países desenvolvidos,segundo o médico Everton Padilha Gomes, cardiologista assistente do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo (InCor). É um tipo de dado surpreendente e silencioso porque, muitas vezes, se pensa que o traumatismo, os cânceres e doenças infecto-contagiosas sejam a principal causa de mortalidade. Mas, a doença cardiovascular é a principal causa”. .

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Gomes explica que cerca de 50% dos pacientes que sofrem um infarto agudo do miocárdio não chegam vivos a um hospital. Por isso, há necessidade de novas terapias, abordagens dinâmicas e mais rápidas em relação a esses casos, que possibilitem salvar vidas, com um atendimento precoce a esse tipo de pacientes. Com essa finalidade, foi desenvolvido o projeto Treinamento Integrado em Medicina de Emergência (Time), de capacitação de profissionais de saúde em todo o país, numa parceria do InCo com a Sociedade Brasileira de Clínica Médica, além de instituições educacionais do Rio de Janeiro e São Paulo.

O Time já passou este ano pelas cidades de Santo André, São Paulo e Campinas (SP), Dourados (MS) e Manaus (AM). Hoje, ele está no Rio de Janeiro, onde terá dez edições com turmas de 30 alunos. A programação de 2009 prevê que o projeto passe ainda pelas cidades de Porto Alegre (RS), Sorocaba (SP), Recife (PE), Curitiba (PR), Brasília (DF), Rio Branco (AC), Natal (RN), Botucatu (SP), São José do Rio Preto (SP), Belo Horizonte (MG), retornando também a São Paulo.

O cardiologista do InCor explicou que o objetivo principal do projeto é reciclar os profissionais de saúde, “de tal maneira que eles possam dar um atendimento mais rápido aos pacientes. E,agindo da maneira correta, eles vão prevenir não somente o infarto, mas também sequelas que advêm de um infarto agudo do miocárdio, por exemplo, que não é tratado precocemente”. O número de internações de pacientes que sofreram um infarto no Brasil aumentou 65% no período de 1998 a 2005, subindo de 119 mil para 196 mil, de acordo com o Ministério da Saúde.

“A incidência de infarto tem sido crescente no país”, afirma o especialista.Outra curiosidade observada pelos médicos em relação à doença é que, ao contrário do que ocorria no passado, o infarto não está relacionado à pessoa idosa ou aposentada. Pessoas cada vez mais jovens sofrem de infarto agudo do miocárdio e necessitam de tratamento adequado”, afirma o médico Everton Gomes.

Entre os fatores que predispõem uma pessoa a ter um infarto estão a vida sedentária, sem a prática de exercícios físicos; alimentação industrializada, rica em gorduras; além do tabagismo, que ainda tem grande prevalência na população brasileira. O cardiologista afirma que cada vez mais a sociedade brasileira está se parecendo com a sociedade do primeiro mundo. Advertiu, porém, que “esse primeiro mundo nem sempre traz vantagens do ponto de vista geral”.

A população brasileira experimentou uma transformação significativa nos últimos anos. Há 40 anos, o grande fator de mortalidade no país eram as doenças infecciosas. Hoje, ainda há bolsões de pobreza onde ocorrem doenças infecto-contagiosas, mas essa não é a causa maior de mortes no país, segundo o cardiologista. Também a média de vida do brasileiro aumentou de cerca de 65 anos, registrada há 15 anos, para 72 anos atualmente.

Estudo realizado por especialistas norte-americanos mostra que cada minuto perdido nas três primeiras horas após a apresentação de sintomas do infarto agudo do miocárdio custa ao paciente uma média de 11 dias de vida. Se o paciente não for atendido adequadamente nas primeiras horas, ele vai ter seqüelas que vão reduzir a sua vida. É uma pessoa cuja expectativa de vida diminui de maneira significativa”, alerta Everton Gomes.

Fonte: http://www.opovo.com.br/saude/888875.html
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Síndrome de Turner


Pergunta enviada por Dayane, via e-mail.
 

O que é?
   


A síndrome de Turner é uma má formação cromossômica que afeta exclusivamente as mulheres. As pessoas com este problema manifestam uma alteração genética em que está implicada na perda de um cromossoma X ou Y que ocorre durante a divisão celular. A maioria das crianças é 45,X nascendo então exclusivamente com o sexo feminino, pela falta do cromossomo Y. Sendo que eles possuem os 22 pares autossômicos, veja representação do cariótipo a seguir:

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Características:
A baixa estatura, imaturidade do desenvolvimento sexual e um pescoço curto em crianças do sexo feminino são as alterações mais características da Síndrome de turner, assim como as anomalias cardiovasculares. A esperança média de vida e a capacidade intelectual é considerada normal.
           A infertilidade afeta quase 95% das mulheres com o cariótipo 45,X. O risco de recorrência da Síndrome de Turner não aumenta em futuros filhos de um casal que já tenha uma filha com este problema. No entanto, nas mulheres férteis com a doença em questão existe um risco de anomalias cromossômicas em futuros filhos e, como tal, deve ser proposto o diagnóstico pré-natal.
 Causa
A Síndrome de Turner causa 18% dos abortos espontâneos cromossomicamente anormais, sendo esta monossomia do cromossomo sexual de origem materna, o que indica o erro meiótico como paterno. A causa dessa síndrome está em 75% dos casos relacionada a uma falha na gametogênese (não-disjunção) que causa a monossomia do X, que quando é detectada, está no gameta do pai.
Diagnóstico
O diagnóstico dessa síndrome é feito após o nascimento e muitas vezes apenas na adolescência. O conjunto de características apresentados pela portadora é que determinará o diagnóstico da síndrome, sendo confirmado pelo exame de cariótipo.

 Características fenotípicas    

Ø baixa estatura 
Ø disgenesia gonadal   
Ø fácies incomum típica        
Ø pescoço alado  
Ø linha posterior de implantação dos cabelos baixa   
Ø tórax largo com mamilos amplamente espaçados    
Ø freqüência elevada de anomalias renais e cardiovasculares       
As portadoras da Síndrome de Turner freqüentemente apresentam também, atraso na primeira menstruação, além de déficit de percepção espacial e visual-motor, tendo dificuldades gerais em tarefas não-verbais.
Evolução:
A baixa estatura torna-se mais notória na puberdade, altura em que ocorre uma desaceleração do crescimento.
Os problemas associados à Síndrome de Turner podem ocorrer nos sistemas ocular, auditivo, cardiovascular, linfático e imunitário.
As anomalias cardíacas como a coarctação da aorta e válvula aórtica bicúspide são freqüentes. Mesmo não sendo clinicamente significativas, estas alterações podem estar associadas a aneurismas da aorta ou à aterosclerose. Para além disso, pode estar também uma predisposição para as anomalias vasculares, que no trato gastrointestinal pode resultar em hemorragias. Também são mais freqüentes as doenças auto-imunes, tais como o hipotiroidismo e diabetes mellitus.
Apesar de uma inteligência normal ou até acima do normal, estas crianças podem apresentar dificuldades na aprendizagem, particularmente no cálculo matemático, visualização espacial e na coordenação motora.
Tratamento:
Sendo uma doença cromossômica, a Síndrome de Turner não tem cura, mas muitos dos sintomas como a estatura e a infertilidade, podem ser minimizados.
Aplicação dos hormônios GH e estrogênio.        
Se o hormônio GH for administrado antes da puberdade (em torno dos oito anos de idade), algumas portadoras podem atingir uma estatura mais alta, embora essa estatura varie bastante entre as portadoras. A terapia com estrogênios pode levar ao desenvolvimento dos órgãos genitais internos e externos, caracteres sexuais secundários e menstruações, não corrige a infertilidade.  
O acompanhamento psicológico também é recomendado para a pacientes que apresentam essa síndrome.
Fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/sindrome-de-turner/sindrome-de-turner-3.php
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Americano com suspeita de gripe suína morre no RS

Engenheiro de 58 anos viajava a trabalho; morte pode ser a primeira causada pelo vírus no Brasil

O americano Michael Glenn Brannan, 58 anos, morreu na tarde de sexta-feira no Hospital Unimed Vale do Caí, em Montenegro, distante 60 quilômetros de Porto Alegre, com suspeitas de gripe suína. A morte pode ser a primeira causada pelo vírus A H1N1 no Brasil.

O caso está em investigação e, conforme a Secretaria Estadual da Saúde e a direção do hospital, a confirmação da causa da morte será informada na segunda-feira, quando estarão prontos os resultados dos exames, inclusive da aspiração naso-faringeo, que poderá confirmar a incidência da gripe.
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.Brannan, que apresentou indícios da doença, era engenheiro mecânico e estava no Rio Grande do Sul em viagem de trabalho. Ele chegou ao Estado em 21 de junho, domingo, porém, na quarta-feira passada foi internado no Hospital Unimed Vale do Caí queixando-se de dores e febre. O paciente entrou em coma no dia seguinte e, posteriormente, faleceu.

O presidente do Hospital Unimed Vale do Caí, Gerson Antônio Reis da Silva, ressaltou que o homem permaneceu isolado no período da internação. A Secretaria Estadual da Saúde postou nota no seu site oficial para comunicar o caso na manhã de ontem.

Até o momento, o Rio Grande do Sul registra 59 casos da doença. Outros 95 diagnósticos continuam apenas como suspeitos e 37 já foram descartados. São Gabriel, localizada no Centro do Estado, contabiliza 28 contaminados. A cidade já sofre reflexos decorrentes da Gripe A, como pessoas caminhando de máscaras pelas ruas, aulas e eventos suspensos, comércios e hotéis vazios. Porto Alegre, conforme o último levantamento, possui 18 infectados
Fonte: http://www.opovo.com.br/saude/888861.html.



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sexta-feira, 26 de junho de 2009

Entenda a diferença entre ataque cardíaco e infarto

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O coração funciona como uma bomba de ejeção de sangue para todo o corpo humano. Quando se contrai, distribui sangue pelas artérias; e quando se dilata, traz o sangue de volta para dentro dele, pelas veias. A parada cardíaca ocorre quando o coração para de funcionar. Nessa condição, ele deixa de exercer a função de bomba, inviabilizando a circulação do sangue pelo organismo.

De acordo com o cardiologista e diretor da Unidade Clínica de Coronariopatias Agudas do Incor HC/FMUSP, doutor José Carlos Nicolau, o infarto é a causa mais comum de parada cardíaca na população.

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"Além de fazer com que o sangue circule pelo corpo, o coração também precisa de sangue para o próprio funcionamento. Quando há obstrução de um vaso que alimenta o órgão, a região relacionada a esse vaso pode vir a morrer. Isso é o infarto do miocárdio (do coração)", explica, acrescentando que o infarto tem tamanho e repercussão variáveis, dependendo do vaso que tiver sido obstruído.

De 3.439 infartados, atendidos no Incor nos últimos dez anos, 479 tinham 50 anos ou menos. O especialista lembra que, quando há uma parada cardíaca, é fundamental que haja atendimento rápido.

"Em alguns casos, é possível reverter o quadro. Quando o atendimento é feito prontamente, diminuem-se os riscos de lesão cerebral", informa.

Além do infarto, há outras diversas causas que podem levar à parada cardíaca, como insuficiência cardíaca em fase terminal, embolia pulmonar, arritmia cardíaca congênita, entre outras.
Fonte: http://saude.terra.com.br/interna/0,,OI3845628-EI1497,00-Entenda+a+diferenca+entre+ataque+cardiaco+e+infarto.html
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Genótipos e Fenótipos na Pessoa Calva


Pergunta envianda por Aline Sinara Nofal, via e-mail.
O gene C (dominante), que determina a calvície humana, atua melhor na presença de hormônios masculinos. No homem comporta-se como dominante e na mulher como recessivo.

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Expressividade de um gene
É a capacidade que tem um gene de revelar a sua expressão com maior ou menor intensidade.
Os genes que condicionam a produção de melanina, dando cor à pele, têm a sua expressividade alterada pela exposição aos raios ultravioleta do Sol. O gene para a calvície e para o desenvolvimento das mamas tem sua expressividade alterada pela presença dos hormônios sexuais masculino ou feminino, respectivamente.
Dois indivíduos podem ter o mesmo genótipo e apresentarem fenótipos diferentes.
FENÓTIPO = GENÓTIPO + AMBIENTE
Um homem CC (homozigoto dominante) ou Cc (heterozigoto) será calvo, enquanto uma mulher Cc (heterozigota) terá cabelos normais.
Em mulheres, a calvície só se manifesta quando o genótipo é CC (homozigoto dominante).
Fatores de origem interna, certamente os hormônios, influenciam a manifestação desses genes. Por isso, as mulheres heterozigotas apresentam perda acentuada de cabelos, e até mesmo calvície, após a menopausa, quando ocorrem alterações hormonais, aumentando as taxas de hormônios masculinos.
Genes Holândricos

Algumas características que, embora sejam determinadas por genes autossômicos, apresentam um padrão de herança influenciado pela presença de hormônios masculinos. É o caso da calvície, que é muito mais freqüente em homens. Essa característica é determinada por um gene C que atua como dominante no sexo masculino e como recessivo no sexo feminino. Portanto, enquanto as mulheres precisam apresentar dois genes para serem calvas, basta um gene C para a calvície se manifestar nos homens.
Genótipos
Fenótipos
C1C1
Homem calvo
Mulher calva
C1C2
Homem calvo
Mulher não-calva
C2C2
Homem não-calvo
Mulher não-calva
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quarta-feira, 24 de junho de 2009

Darwin nas águas da evolução

.Um pequeno passeio Pela teoria da Evolução
"Mesmo na floresta, o solo está oculto sob uma massa de plantas orgânicas apodrecendo lentamente" (*Todas as citações de Charles Darwin)
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Em um raro momento de calmaria, os troncos cobertos de fungos parecem estar em uma floresta mágica. Darwin considera a vegetação do extremo sul do continente americano escassa e triste, contrariando o que aqui se vê. Ssob o teto das coroas, ele lastima, não cresceriam nem cogumelos, musgos ou samambaias
"Diariamente, coloca-se aos olhos do geólogo que nada, nem mesmo o vento que sopra, é tão instável quanto a camada superior da crosta terrestre"
Darwin não relata sobre a luz do anoitecer nos Andes, aqui, ao norte da cidade chilena Lla Sserena. Sseu olhar está dirigido ao solo, no qual ele encontra em, grande altitude, muitas conchas. Ee conclui: as montanhas devem ter sido pressionadas para fora do mar. Ppara o pesquisador, mais um caso em que acontecimentos poderosos podem ser lidos em pequenos rastros
"A maioria dos produtos orgânicos é criatura local, que não se encontra em nenhum outro lugar"
A gigantesca mariposa cocytius antaeus caiu na armadilha dos pesquisadores na ilha Ssanta Cruz, em Ggalápagos. Pprovavelmente a borboleta imigrou recentemente da terra firme, como tantos outros insetos que ameaçam perturbar o equilíbrio da fauna insular. Darwin, porém, se queixa sobre a falta de insetos no arquipélago
A vila se parece com o seu nome: Puerto Hambre - Porto da Fome. A terra é cinza-azulada, o céu branco-acinzentado, o mar cinza-chumbo. Chove sem parar. Nunca vi algo mais triste, Charles Darwin escreve sobre a baía na costa da Argentina, onde havia ancorado em 1834 a bordo do navio de levantamento topográfico Beagle.
Perto dali, Fernão de Magalhães descobriu, em 1o de novembro de 1520, o estreito que leva o seu nome, dando passagem para a costa oeste da América do Sul e, consequentemente, para as terras das especiarias da Ásia. Por causa das inúmeras pequenas fogueiras, acesas pelos habitantes nativos nas colinas da região, o português chamou- a de Terra do Fogo
Com a gola levantada e o boné puxado sobre o rosto, estou caminhando pelo lugar. Pouco antes de a trilha terminar diante de um matagal intransponível, bem perto da costa, aparece um pequeno cemitério para marinheiros. O vento sudoeste gelado e úmido sopra uivando, ao passar pela corrente branca que cerca o gramado. Pintada com a mesma tinta branca, uma cruz de madeira sobressai entre outras nove sepulturas, separadas por simples estacas de madeira.
"Em memória do comandante Pringle Stokes", diz a inscrição na cruz, "que faleceu em consequência dos efeitos das aflições e das penúrias que sofreu ao fazer o levantamento da costa oeste da Terra do Fogo". Talvez não se possa parafrasear de maneira mais britânica um suicídio. Em agosto de 1828, em profunda depressão, o então capitão do Beagle se matou nessa região, com um tiro na cabeça.
Permaneço parado diante da cruz por mais tempo do que seria aconselhável sob chuva e frio. Sem esse tiro fatal, Darwin não teria sido convidado a embarcar a bordo do Beagle e eu também não estaria parado aqui. Após a tragédia com Stokes, o tenente Rrobert FitzRroy, de 23 anos, foi nomeado capitão. Ele prosseguiu com os trabalhos topográficos e conduziu o navio de forma segura à Grã-Bretanha.
Quando em 1831 recebe novamente a tarefa de velejar para a América do Sul e retomar a missão, o capitão pede licença ao almirantado para levar consigo um civil, cavalheiro de boa instrução e com conhecimentos em ciências naturais, para fazer-lhe companhia à mesa e como interlocutor. FitzRroy está ciente de suas próprias fraquezas e não quer passar pela mesma situação que seu predecessor. Por uma feliz coincidência, o lugar é oferecido ao jovem Charles Darwin, de 22 anos, que, sem titubear, agarra a chance de sua vida com as duas mãos.
Durante cinco anos ele viaja em torno do mundo. Ao longo desses anos, ele cria os fundamentos para sua obra do século, A origem das espécies, com a qual, há 150 anos, redefiniu a imagem que o homem tinha de si e de seu lugar no mundo. A consequência mais conhecida de sua teoria da evolução é a de que o homem descenda de primatas.
Eu segui a sua senda para entender como Darwin descobriu e encadeou os tijolos para sua estrutura mental única. A força criativa da morte já lhe havia sido mostrada com os fósseis no Pampa e na Patagônia. Aqui, na Terra do Fogo, ele observa pela primeira vez a história de sua própria espécie.
Dentre os 76 viajantes que zarpam da Inglaterra no final de 1831 com o Beagle, encontravam-se também três fueguinos, além de Darwin, os oficiais e a tripulação. Durante sua primeira viagem, FitzRoy os fizera reféns, depois que outros nativos lhe haviam roubado um barco de pesca - e os levara para a Grã-Bretanha, onde receberam educação anglo-cristã. Agora, voltando para sua terra, o capitão pretende que eles ajudem a construir uma nova estação missionária na ilha Navarino, ao norte de Cabo Horn, e que convençam os outros membros de sua tribo a adotar a cultura europeia.
Até hoje, a baía de Wulaia, onde FitzRoy desembarcou os fueguinos, só pode ser acessada pela água. Nas cercanias da chilena Puerto Williams, a cidade mais meridional do planeta, capitán Eugênio declarase disposto a me transportar até ela. Ele é uma dessas pessoas que as longas permanências em terra tornam inquietas e que já devem ter nascido com um gorro de lã azul na cabeça. Após meia hora deixamos o canal Beagle e nos dirigimos ao sul em uma estreita hidrovia. Não há nenhum barco à vista, tampouco outro sinal qualquer de vida humana. Nesses fiordes entre ilhas íngremes com mata cerrada, quase nada mudou desde os tempos de Darwin. A floresta densa, quase intransponível, chega até o nível da água, de modo que a terra habitável se restringe às grandes pedras na margem.
Quando Darwin avista pela primeira vez os parentes diretos de seus companheiros de viagem indígenas, ele compreende a extensão de sua própria espécie. À vista de tais homens é quase impossível tentar nos convencer de que eles sejam nossos semelhantes e habitantes de um e o mesmo mundo. Mas, também, é aqui que surge um dos maiores enganos de sua carreira: que escala de melhoria abrange as capacidades de um selvagem fueguino e de um Sir Isac Newton!, Darwin escreve em seu diário. Será que permaneceram no mesmo estado desde a criação do mundo? Embora o pesquisador naturalista acredite que os "selvagens" pertençam à mesma espécie que ele, classifica-os biologicamente - não apenas civilizacional ou culturalmente - em uma etapa evolutiva mais baixa.
Na argentina Ushuaia, do outro lado do Canal de Beagle, descendentes dos fueguinos guardam em um pequeno museu a memória do "mundo yámana", o mundo de seus ancestrais. Ficaram gravadas em minha memória principalmente as fotos em preto e branco de uma expedição de pesquisa francesa, nos anos de 1882 e 1883: os nativos nus, agachados timidamente sob suas choças, cabanas parcialmente abertas feitas de taipa, ou em suas canoas - a única propriedade da família -, em cujo centro arde uma pequena fogueira. Cinco crianças estão em torno de uma poça, da qual bebem água como gatinhos de uma tigela.
Como será que esses nômades canoeiros conseguiram sobreviver por milênios nessa região inóspita no fim do mundo, e ainda por cima nus? Eu decidi penetrar um pouco terra adentro. Logo atrás dos campos em volta do atracadouro de Wulaia, onde também eu começo minha caminhada, se estende a mata verde úmida. Na floresta, o solo está escondido embaixo de uma massa orgânica de plantas em decomposição, que, ao ser pisada, cede, pois está saturada de água.
No fim do mundo - e de uma vida - tudo tem o seu começo
Na atmosfera sombria das montanhas da Terra do Fogo, o ex-capitão do Beagle, Pringle Stokes, comete suicídio. A fim de não se ver na mesma situação desesperadora, seu sucessor, Robert FitzRoy, pede ao almirantado permissão para levar a bordo um interlocutor com boa instrução. A escolha recai sobre Charles Darwin
Atualmente, a criação de ovinos é a base alimentar para boa parte da população no sul do Chile. Um cogumelo arbóreo amarelo, segundo Darwin, "viscoso", é uma importante fonte de vitaminas dos nativos da Terra do Fogo. Em seu habitat natural, como a cidade argentina de Ushuaia, as florestas de faias lenga dão lugar, a partir de aproximadamente 500 metros de altitude, a uma escassa vegetação de arbustos - ao passo que em regiões da costa chilena, essas florestas chegam a altitudes três vezes maiores
Onde a terra quase não dá nada para sobreviver
Um jardim do Éden tem outra aparência aqui, em uma fonte de vitamina como nenhuma outra em lugar algum: trata-se de um cogumelo amarelo-claro, em forma de esfera, que nasce em grande número nas faias. Eu colho uma bola madura, ela se parece com um pêssego, tanto no tato quanto na consistência. Ele tem um sabor levemente adocicado e meloso, cheirando a champignon. Agora já estou com Darwin até no estômago, pois o cogumelo pertence a uma espécie estranha; é chamado de cyttaria darwinI, segundo seu descobridor. Mas essa planta dificilmente sacia a fome de uma pessoa. Os yámana retiram da água gelada seu alimento principal.
Alcanço a praia todo enlameado. Pelo menos uma vez quero sentir até onde chegou a adaptação dos fueguinos nus. Quando o Sol aparece por entre as nuvens, fazendo brilhar os bosques de algas laminariales perto da superfície, tomo uma decisão: tiro as roupas e mergulho de cabeça na água.
Cinco graus centígrados. Uma dor como um golpe, depois uma brasa que passa pelo corpo todo. Logo depois, com a sensação de ter perdido toda a capacidade de sentir qualquer coisa, permaneço alguns segundos flutuando anestesiado, sem ar. Vejo peixes desviando de mim, camarões fugindo e ostras se fechando; são imagens como tiros, brilhantes, como as algas vermelhas e verdes. E volta aquela brasa, primeiro na cabeça, de lá atravessa o corpo até os pés, que só querem sair desse inferno gelado.
Então foi isso que ele, - o selvagem fueguino, o senhor miserável dessa terra miserável -, suportou. Depois, raptado, aprendeu a falar inglês e a rezar. Se, ao contrário, eu tivesse sido criado como criança enjeitada entre os yámana, eu saberia construir canoas com cascas de árvores, pescar com lanças e, todo coberto de gordura, iria catar ostras na água gelada.
Graças ao desenvolvimento de nossa capacidade cultural, a evolução nos transformou na espécie com maior habilidade de adaptação dentre as espécies mais desenvolvidas.
Cristina Calderón é a última yámana pura. Depois dela, ninguém mais cresceu falando a língua yámana, que tem um verbo para cada atividade especial que ocorre na vida de um índio. "Akeamana", por exemplo, significa: verificar com caibro e martelo, se a madeira de uma árvore é boa para cortar. Quando em 1832, Darwin encontra os ancestrais de Calderón na Terra do Fogo, ele fica chocado com a vida dura e "miserável" deles
Eu devo ter ficado bastante tempo diante das fotografias dos yámana. Vários grupos de turistas já haviam passado por trás de mim, quando então uma pequena mulher, de uns 50 anos, se colocou ao meu lado e disse: "O senhor parece interessar-se muito por nós." - "Nós? Mas existem ainda descendentes vivos?" - "Se contarmos também os mestiços, somos ainda uns cem." - "E se não os contarmos?" - "Então tem apenas uma." - "Uma?" - "Ela se chama Cristina Calderón e tem 78 anos."
n a manhã seguinte eu tenho a oportunidade de cumprimentar a hermana mayor entre os seus. Um pequeno grupo de não mais que 20 pessoas, todas jovens, descendentes de diversos povos, reuniu-se na periferia de Ushuaia, em um local de cerimônias, em torno de uma pequena fogueira, o símbolo de sua cultura. A maioria usa jaquetas baratas e calças de moletom. Estão passando tigelas entre si, das quais bebem uma espécie de limonada com gosto de fermento. Um celular toca, dois meninos jogam futebol, passa correndo um grupo de "joggers".
Cristina Calderón está no meio da roda dos jovens, um tanto perdida. Em seu nariz largo se apoiam óculos grandes e redondos com lentes grossas, através das quais pequenos olhos despertos olham para uma distância qualquer, que não existe mais. Uma emoção estranha toma conta de mim, quando me vejo frente a frente com uma última descendente "de raça pura".
Mas, afinal, o que quer dizer "raça pura"? Existe isso quando se fala de seres humanos? Os povos indígenas extintos não continuam a viver nos traços dos argentinos e chilenos, que em sua maioria têm sangue misturado em suas veias? E no caso dos ingleses, espanhóis e russos, que se formaram a partir de vários povos?
A igreja em Castro, na Ilha Chiloé, é "totalmente construída de tábuas", anota Darwin. Durante a viagem germinam dúvidas, mas o pesquisador ainda não desiste da fé em um Deus Criador
Durante a viagem, a luz da fé perde força
"O que significa ser a última de uma linhagem?" - "Eu acho que é o tema da minha vida." - "E isso quer dizer o quê?" - "Que a minha vida fala." - "Teria uma mensagem para aqueles que virão após a senhora?" Ela dá de ombros. "Ou melhor, espere, escreva: a sabedoria é imortal."
Uma vez por semana, uma balsa vai do patagônio Puerto Natales para Puerto Montt, no sul do Chile. Ela leva três dias e noites. Após aproximadamente um terço de seu caminho, ela segue o mesmo rumo do Beagle - uma das viagens de navio mais excitantes que se pode fazer hoje em dia: através de hidrovias tortuosas, passando por geleiras poderosas, ilhas minúsculas com torrezinhas de sinalização e uma única aldeia com o belo nome de Puerto Eden.
É um lugarejo cheio de melancolia, com aproximadamente 300 pessoas, os últimos kaweskar dispersos e que moram aqui no canal Messier, sem qualquer ligação com o mundo externo. Trata-se de fueguinos que antigamente viviam em canoas, como os yámana, e com os quais ninguém sabe o que fazer desde que lhes tomaram sua terra e seu modo de vida. Hoje em dia são alimentados pelo governo.
Quando ajudo a descarregar os mantimentos, porque o guincho quebrou, a dona da venda me dirige a palavra: "O que você está fazendo? Gente rica não trabalha." - "Eu gosto de ajudar." - "Você quer ir para o céu, não é?" - "Não foi por isso que eu ajudei." - "Acontece que o céu não é de vocês. Ele pertence aos pobres." - "Nunca ouvi isso." - "Para nós, ele contém um mundo todo, nossos sonhos, desejos e esperanças." - "Mas para mim, também." - "Não, para os ricos o céu está vazio. Eles já têm tudo aqui na terra."
Quando meu navio "Evangelistas" alcança o Pacífico, a arrebentação corre impiedosa sob a quilha. Açoitadas pela tempestade, as ondas se quebram na terra íngreme. A vista de uma costa dessas é suficiente para fazer um homem da terra sonhar por uma semana com morte, perigo e naufrágios.
Após atracar em Puerto Montt, o corpo quer equilibrar o movimento do navio, do qual já saiu faz tempo. O solo firme parece estar balançando. Pela rua, do outro lado do porto pesqueiro da capital da província, movem-se caminhões com pesados barris de plástico em suas carrocerias. As manobras são feitas com muito cuidado, como se o conteúdo fosse uma mercadoria perigosa. O que será que é transportado aqui?

Do mar, a cavalo, para um dos ápices da viagem
Em um vale entre montanhas, ao sul de Santiago, dois cavaleiros iniciam sua viagem. Partindo de Valparaíso - na época de Darwin um porto idílico, hoje globalizado - o pesquisador atravessa a cordilheira a cavalo. E com base na vegetação diversa a leste e oeste da cadeia de montanhas, abre-se um princípio essencial da evolução
"O futuro", diz Martin Hevia. Aos 42 anos e com especialização em aquacultura, o biólogo marinho dirige perto de Puerto Montt um laboratório de pesquisas da "Fundación Chile". Dentro dos caminhões, atravessando a cidade, em velocidade mínima, as tinas carregam, principalmente, água salgada e uma carga viva: peixes. Após a criação em estações terrestres, são levados a fazendas de engorda em mar aberto. Da janela de seu escritório, Hevia aponta para a ampla baía. "Lá cresce o que o senhor terá amanhã na mesa." Como coroas artificiais de espuma, vejo fileiras de boias brancas na água encrespada. Nelas estão dependuradas as enormes redes das fazendas de peixe.
Bem ao lado do escritório de Hevia, em galpões de chapa ondulada, estão barris redondos de plástico verde. Neles, milhares de peixes nadam sem parar, sob constante entrada de água. São sistemas automáticos de alimentação, instalações de filtragem e os tubos azuis das instalações de tratamento de água. Nada revela que aqui um homem, de maneira clássica, mas com os meios mais modernos, pode brincar de Deus: seres vivos criados como nunca existiram na natureza e também nunca existiriam sem a manipulação do homem. "Estamos ampliando a arte da criação de animais para os habitantes do mar."
Com expressão cética, Darwin olha para o escritório da diretoria da organização de pesquisa que leva o seu nome, na Ilha Santa Cruz, em Galápagos. A craca foi colocada pelo fotógrafo com um truque
O trabalho de gente como Hevia e de inúmeros predecessores faz que Darwin, logo após o retorno à sua pátria, enxergue, de fato, a possibilidade de reconhecer o mecanismo da evolução: quando espécies, como testemunhas fósseis lhe haviam mostrado, podem desenvolver-se e adaptar-se. Quem, diariamente e diante de nossos olhos, demonstra essa capacidade de adaptação melhor que os criadores? Criação de animais nada mais é que a evolução dirigida pela mão do homem, deduz o pesquisador.
Quando Darwin coloca lado a lado a mão invisível da criação e a visível do criador de animais, vem-lhe à mente, em princípios de 1839, a ideia de sua vida: a evolução pela seleção natural. Essa seleção funciona em longo prazo, segundo o princípio no qual o melhor é o inimigo do bom. Se populações produzem mais crias do que mais tarde possam chegar à procriação, ocorre a luta pela existência, à qual, ao final, sobrevivem os "mais aptos". Mais tarde, Darwin recorre à fórmula do filósofo Herbert Spencer e fala de "survival of the fittest."
Seu pensamento genial baseia-se em uma analogia simples: tão logo ocorra uma pressão seletiva por meio da criação, os animais, paulatinamente, seguem a direção desejada. Se na natureza surge uma pressão comparável, que, por exemplo, permita uma vantagem a camundongos mais rápidos sobre os mais lentos, por poderem fugir com mais rapidez diante de predadores, então a natureza atua como um criador de animais.
Os mais rápidos sobrevivem com maior probabilidade; com o passar do tempo, toda a população de roedores fica mais ligeira.
Nada diferente a isso fazem os criadores de animais, quando selecionam cães ou cavalos segundo a sua velocidade.
Darwin partiu para atravessar os Andes. Ele quer ver como os dois lados da cordilheira se diferenciam. O estreito de Uspallata, nos arredores da capital Santiago, conduz hoje em dia uma rodovia trafegável o ano inteiro. Curva a curva, caminhões carregados sobem com dificuldade. A cada elevação se apresenta um novo cenário. Rochas sedimentares vermelhas, púrpuras, verdes e totalmente brancas e lava preta; esses estratos são quebrados por colinas de porfiroides de todas as colorações de marrom a lilás-claro. A riqueza de cores das rochas andinas na luz mais brilhante da terra faz parte, para mim, das 77 maravilhas desse mundo.
De acordo com a escala temporal geológica, Darwin acabou de sair daqui. Tudo está ainda como ele descreve. Eu me senti feliz por estar sozinho, foi como observar uma tempestade ou ouvir o Messias com coro e orquestra completos. Essa imagem está em minha memória separada de todas as outras.
Na crista, Chile e Argentina mantêm, a poucos passos de distância um do outro, um pequeno posto militar, ambos construídos de pedras brutas. Um vento forte sopra do leste.
Caminhando mais um pouco montanha acima, o pouco oxigênio faz o coração acelerar de modo insano. A respiração curta por causa do ar rarefeito é chamada de puna pelos chilenos. Deve ter sido assim, quando Darwin teve seu momento de êxtase do reconhecimento. A única sensação que eu tive foi um leve aperto em torno da cabeça e do peito [...] Os habitantes todos recomendam cebola contra a puna [...] no que concerne a mim, nada teve efeito melhor em mim do que as conchas fossilizadas!
"Geralmente, os criadores falam da organização de um animal como de algo que se pode formar, algo que eles podem transformar quase a bel-prazer"
Sob os olhos do biólogo Martin Hevia desenvolvem-se, em tanques imensos, os peixes cultivados para o futuro. Nas vizinhanças de Ppuerto Montt, no Chile, os cientistas munidos da mais moderna tecnologia se dedicam ao milenar negócio da criação animal - a arte que leva Darwin à ideia da "seleção natural"
Os restos de antigos habitantes do mar no ponto mais alto da caminhada. A cordilheira inteira deve ter se erguido do oceano. E no solo oceânico se formam as próximas camadas. Apenas no espaço de tempo entre 10 e 6 milhões de anos atrás, conforme informações recentes de cientistas, os Andes se elevaram em até 2.500 metros.
A verdadeira sensação é fornecida a Darwin pela biologia viva, florescendo diante de seus olhos. Nos ele encontra material para outro tijolo de sua teoria, do qual não se pode abdicar: a separação geográfica como pressuposto para a cisão e a evolução separada das espécies. Marcante foi a considerável diferença entre a vegetação desses vales orientais e a do lado oposto: contudo, o clima bem como a característica do solo são quase idênticos, e a diferença de longitude é quase insignificante. A mesma observação vale para os quadrúpedes, e em menor grau para pássaros e insetos.
Quando dois grupos de uma mesma espécie, separados por montanhas ou águas, perdem contato entre si, eles não se reproduzem mais e, consequentemente, também não trocam mais características genéticas. Por inúmeras gerações eles se desenvolvem de maneira diferente, não podendo mais gerar descendentes e tornando- se duas espécies diferentes. Essa separação de espécies por meio de "divergência" torna-se um dos tijolos da teoria de Darwin, depois de reconhecer com nitidez bem maior o princípio do isolamento no destino mais conhecido de sua viagem, o arquipélago de Galápagos.
Alfred Russel Wallace
O homem na sombra de Darwin
Paralelamente a Darwin, um britânico desenvolve uma teoria sobre a origem das espécies
Sexta-feira, 18 de junho de 1858. Ao examinar sua correspondência, uma longa carta cai nas mãos de Charles Darwin, que havia sido postada no distante arquipélago das Ilhas Molucas. Ele lê e fica perplexo: diante dele está a sua ideia da seleção natural, claramente formulada por outra pessoa. Muito tempo já se passou desde que a maior aventura de Darwin, seu relato de viagem, foi publicada. Mas há 20 anos Darwin hesita em escrever a sua teoria sobre a origem das espécies. E agora alguém ameaça chegar à sua frente. Darwin reconhece a letra de cartas anteriores, ele sabe que o remetente, Alfred Russel Wallace, também se ocupa com a "questão das espécies". Por que ele subestimou o potencial desse homem? Wallace, 14 anos mais novo que ele, é filho de uma família de classe média empobrecida, do País de Gales. Não estudou ciências naturais e, como oitavo filho na sequência dos irmãos, desde cedo teve de cuidar de sua subsistência, mesmo assim torna-se agrimensor. Passa seu tempo livre na biblioteca, lendo sobre zoologia e botânica. E devora os relatos de viagem de Alexander von Humboldt e de Charles Darwin. Com 25 anos de idade, parte para sua primeira expedição na região do Amazonas. Quatro anos depois retorna à Inglaterra e planeja outra viagem para breve. Em março de 1854, retorna ao mar. Seu destino é o Mar do Sul da China. Fascinado, perambula pela selva das ilhas da Malásia, identifica e determina pássaros, coleta insetos e herboriza plantas. Mas seu interesse ultrapassa a coleta de raridades: Wallace estuda os padrões de disseminação de grupos de animais e plantas, está fascinado pela diversidade biológica e pelas inúmeras variantes de algumas espécies.
Em uma tarde de fevereiro de 1858, prostrado por um ataque de malária, Wallace mais uma vez quebra a cabeça sobre a "questão das espécies" - e tem uma inspiração: se o meio ambiente se modifica, não são favorizadas em sua reprodução aquelas variantes de uma espécie que estão mais bem-adaptadas às novas condições? Assim que se restabelece da febre, escreve sua ideia e a envia a Charles Darwin. Este repassa o manuscrito de Wallace a Sir Charles Lyell e Sir Joseph Dalton Hooker, que em 1° de julho de 1858, em um encontro da LiNean Society, o leem juntamente com extratos dos escritos de Darwin sobre a teoria da "transmutação" (mais tarde, teoria da evolução). Incentivado pela carta do concorrente, Darwin publica, cerca de um ano depois, seu famoso livro A origem das espécies. A obra monumental obscurece o manuscrito de 20 páginas de Wallace, que cai no esquecimento.
Injustamente, como acreditam alguns biólogos, Wallace também deu importantes contribuições para a teoria da evolução. Contudo, ele nunca contestou a primazia de Darwin. Quando o pesquisador naturalista retorna dos trópicos, trava amizade com Darwin, que escreve mais tarde: "O que mais me admira em Mr. Wallace é que ele não me inveja em nada. Ele deve ter uma índole acentuadamente boa e nobre. O que se deve valorizar mais do que simples inteligência".
Após sua viagem pelo mundo, Darwin se dedica por oito anos ao estudo dos bálanos, um grupo de animais do qual fazem parte as cracas-das-pedras. Por isso ele deixa de lado o trabalho em sua grande teoria da "transmutação"
A noite cai sobre a Cordilheira dos Andes e ativa os monitores no Observatório Europeu do Sul (ESO). Um meio de os pesquisadores dirigirem imensos "olhos" em direção às profundezas do Universo. Graças à atmosfera extremamente seca dos Andes, a Via Láctea brilha aqui mais intensa e mais estrelada do que em outro lugar qualquer. Os cientistas da ESO procuram também por planetas similares à Terra. Existe vida lá? Ela se desenvolve segundo os mesmos princípios que aqui? Eis um teste para a teoria de Darwin
Quando finda o dia, começa o trabalho dos pesquisadores do céu
Finalmente em um navio chamado Beagle, ponto culminante da viagem, 1 grau sul, 90 graus Oeste - Galápagos. O brigue, um barco esbelto de dois mastros, construção de 1970, segue rápido com o vento. As velas brancas estão esticadas, um mar de azul profundo. E no horizonte se veem as silhuetas de algumas ilhas. Focas saltam das ondas, caçando peixes-voadores. Atobás se arremessam como flechas sobre a superfície da água. No céu, com asas estendidas, velejam os pelicanos.
Nenhum outro lugar traz o nome de Darwin à memória como esse arquipélago, pouco menos de mil quilômetros diante da costa do Equador. Aqui surgiu o mito do gênio, a quem a vida, em forma de bicos de aves e carapaças de tartarugas, havia confiado um profundo segredo.
É por essa razão que, no começo, Darwin anda meio a esmo, como o fazem atualmente turistas curiosos. Ele descreve o iguana-marinho com a mesma surpresa horrorizada que acomete qualquer visitante. O animal tem uma aparência feia, de coloração preta, bobo e lerdo em seus movimentos. Em quase nenhum lugar do mundo tem-se a sensação de estar viajando no tempo, por épocas passadas, como aqui.
É por essa razão que, no começo, Darwin anda meio a esmo, como o fazem atualmente turistas curiosos. Ele descreve o iguana-marinho com a mesma surpresa horrorizada que acomete qualquer visitante. O animal tem uma aparência feia, de coloração preta, bobo e lerdo em seus movimentos. Em quase nenhum lugar do mundo tem-se a sensação de estar viajando no tempo, por épocas passadas, como aqui.
O ornitólogo John Gould, que examina os achados de Darwin, chama sua atenção sobre as diversidades. Os pássaros, todos eles até então desconhecidos da ciência, pertencem sem exceção à família dos fringilídeos. Eles formam um grupo próprio, restrito à localidade de Galápagos.

Testemunhas emplumadas de destaque em Darwin estão ameaçadas: a varíola aviária provoca tumores sob as asas de alguns pássaros. Recintos que abrigam tentilhões para observação são assaltados pelos ratos (pesquisadores analisam rastros de mordidas em ovos de massa espalhados pelo local)
Aproximadamente um ano após a visita de Charles Darwin ao arquipélago, ainda antes de retornar à Inglaterra, um parágrafo em suas notas zoológicas mostra como os acontecimentos em Galápagos o deixam inquieto. Ele acabou de catalogar seus tordos e notou que as diferentes espécies podem ser ordenadas a ilhas isoladas. Eu tenho exemplares de quatro ilhas maiores [...] Em cada uma delas se encontra exclusivamente apenas um tipo.
Não foram os fringilídeos, que podem ser encontrados em qualquer livro escolar de biologia, que o colocaram na pista, mas sim tordos discretos. Vendo suas peles, ele se lembra da informação do inglês Nicholas Lawson, governador do Equador em Galápagos, de que as tartarugas de diferentes ilhas podem ser diferenciadas conforme suas carapaças. Se existir o mínimo fundamento para essas observações, valerá a pena examinar a zoologia do arquipélago, pois tais fatos solapariam a estabilidade das espécies.
Podemos imaginar a ocasião como um dos momentos mais iluminados de sua vida: Darwin descobre que espécies imigradas para o arquipélago se adaptam às respectivas condições locais, diferenciando- se de ilha para ilha. Ilhas como as de Galápagos representam a forma ideal daquele princípio que já se esboçava para o pesquisador naturalista nos Andes: o isolamento geográfico. O que em outros lugares se forma ao longo de milhões de anos por meio de coevolução complicada, pode surgir em terra virgem em bem menos tempo.
As espécies, portanto, não conseguem apenas se desenvolver (por meio da evolução), como fósseis e criação já lhe haviam mostrado, mas podem apartar-se em diversos gêneros pela separação espacial. É apenas com essas ramificações na árvore da vida que Darwin pode explicar a desconcertante diversidade do mundo vital.
Durante sua estada em Galápagos, Darwin não compreende mais dos processos do que os visitantes de hoje. Em vez disso, o pesquisador faz travessuras com as tartarugas. Divertia-me sempre quando eu ultrapassava um desses grandes monstros em sua marcha pausada e ele, no momento em que eu passava, encolhia a cabeça e as pernas e, sibilando, caía na terra, com uma batida dura, feito morto.
O que protege as tartarugas contra todos os outros inimigos naturais, falha em confronto com o pior deles. Estima-se que 200 mil morreram em 200 anos para fornecer carne fresca aos homens. Algumas espécies morreram. Quando a estação de pesquisa Charles Darwin interveio na Ilha Espanhola havia ainda apenas 12 fêmeas e 2 machos. Porém, desde os anos 70 do século passado estão sendo procriadas com sucesso, retornando depois ao seu habitat natural.
 O laboratório da evolução em apuros

As Ilhas Galápagos, ligadas ao nome de Darwin como nenhum outro lugar, atraem atualmente, da mesma forma, pesquisadores e turistas: a bióloga Birgit Fessl coleta, em armadilhas de funil, invertebrados da camada das folhas. As tartarugas-gigantes suportam com paciência os visitantes que se aproximam demais delas
Porque o jantar à luz de velas se torna uma ameaça
Nem toda criatura desperta veneração em Charles Darwin. Ele reprova os iguanas-marinhos do Arquipélago de Galápagos, chamando-os de "feios". O entomólogo Lázaro Roque estudou como navios de cruzeiros influenciam a fauna das ilhas. Sua conclusão: as luzes dos barcos atraem milhares de insetos que a bordo conseguem chegar em terra, para dano do biossistema
Para o habitante mais famoso do arquipélago, todavia, o socorro da estação veio tarde demais. "Lonesome George", da Ilha Pinta, é o último de sua espécie. Em uma estação de procriação, ele divide seu recinto com duas fêmeas de uma espécie parecida da Ilha Isabela. Como elas lhe são geneticamente mais próximas, poderiam procriar com seu esperma.
Visitantes jogam moedas na água e lhe desejam boa sorte. De alguma forma, ele compreende seu imperativo biológico e procura as fêmeas, que regularmente se evadem. Aa frustração na cara anciã de George parece evidente: uma melhor imagem simbólica Galápagos não pode fornecer. Com um único representante solitário, uma espécie se despede deste planeta após zilhões de anos.
a tualmente, o turismo é mais perigoso para o arquipélago do que qualquer catástrofe natural. O número de visitantes aumenta constantemente; com 140 mil por ano, o limite colocado há poucos anos está bem ultrapassado. Em 50 anos, o número de habitantes do arquipélago pulou de inofensivos 2 mil para 30 mil. Nos tempos de Darwin eram de 200 a 300. Os esgotos são despejados sem tratamento no mar, as pastagens ampliadas, animais domésticos tornam-se selvagens, cabras já viraram praga, os pescadores ameaçam os pesquisadores por causa de cotas de pesca devidas à proteção ambiental. Aa Unesco colocou agora o arquipélago na lista do patrimônio mundial em perigo.
Com seu livro A origem das espécies, Darwin escreveu uma bíblia da biologia, o único livro de peso que trago comigo do começo ao fim da viagem. E não apenas de forma eletrônica. No ambiente paradisíaco-infernal, de tempos ancestrais de Galápagos, a obra se lê como a defesa do último advogado da humanidade diante do Juízo Final. O argumento final simplesmente não dá para não ler, reler e reler: Há uma grandeza nessa visão da vida, com seus diversos poderes, os quais foram soprados originalmente pelo Criador em poucas ou em apenas uma forma; e que, enquanto este planeta continuou girando segundo a lei fixa da gravidade, a partir de um princípio tão humilde, tenham surgido e continuem a surgir infinitas formas, as mais belas e as mais maravilhosas.
Enquanto escrevo estas linhas, recebo uma notícia da estação Darwin: "Finalmente encontrados dois ninhos, alguns ovos estão na incubadora, e em alguns meses se saberá se realmente haverá procriação ou não!" Talvez "Lonesome George" não fique tão sozinho, afinal.
A caminho
No único dia da viagem em que o fotógrafo Peter Ginter e seu assistente, motorista e tradutor, o argentino Fernando Gomez Bellocq, pretendiam descansar um pouco, bastou uma olhada pela janela, de manhã, para fazer os dois respirarem mais rápido: o vulcão Chaitén cuspia nuvens de cinzas a quilômetros de altitude no céu chileno. Contudo, documentar a devastação de bem perto foi vedado aos dois. Por duas vezes se encontravam na balsa totalmente vazia de Puerto Montt para Chaitén, mas soldados obrigavam-nos a retornar.
Durante seis meses, o escritor científico Jürgen Neffe planejara e organizara quase todos os dias, até que sua viagem pelo mundo, igual à de Darwin, pudesse começar. A visita ao arquipélago de Galápagos havia sido planejada como um clímax - mas deixou sentimentos desencontrados.
Na verdade, Neffe acredita que o maior número possível de pessoas deveria ter a possibilidade de ver esse mundo de maravilhas - a fim de se entusiasmarem pela proteção ambiental. Por outro lado, para salvá-las em sua unicidade, as ilhas deveriam ter seu acesso completamente negado.

Fonte: http://revistageo.uol.com.br/cultura-expedicoes/2/artigo134752-1.asp
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A beleza dos Percevejos!!!

.Parasitas fedorentos, hematófagos danados - eis algumas das qualificações que recebem. Vale lembrar, porém, que já serviram de perfume para a corte francesa, de tão agradável odor exalado por algumas espécies, e que a maioria deles se nutre dos sucos das plantas. A verdade é que esses insetos conquistaram habitats como nenhum outro, sobrevivendo nos trópicos em uma diversidade ímpar de formas e cores
Como duas pipas voando ao vento, as "canelas traseiras" ampliadas em forma de folha estão penduradas nas pernas desse percevejo coreus marginatus tropical

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O percevejo-verde do mato, loxa viridis, habitante das florestas tropicais secas, tem classe. Possui olhos facetados saltados, antenas precisas e um escudo triangular atrás da cabeça, em cuja ponta dianteira se encontra a tromba sugadora. Nela existem cerdas furadoras
Embora possam sugar cogumelos, os percevejos também podem ser vítimas deles, como o exemplo do percevejo-das-plantas totalmente coberto, na Costa Rica. Eem contrapartida, o percevejo-predador se apresenta perfeito com a pele recém-trocada e a velha ainda pendurada, como uma aranha seca. A maioria das espécies passa por esse procedimento cinco vezes, aumentando o seu peso e seu tamanho após cada ecdise
Num belo fim de semana, wolfgang Rabitsch passeia por um parque - na verdade o cemitério central de Viena, Áustria, rodeado de rica ambientação natural. Pode acontecer de ele provocar nas pessoas uma curiosidade peculiar, traduzida em perguntas. E que elas reajam incrédulas com a sua resposta. O que esse acadêmico, de aparência jovial e descuidada, procura nas tuias, com rede e lupa na mão, em volta das sepulturas em honra a Brahms, Beethoven e Schubert?, podem pensar os transeuntes, para depois indagá-lo mais objetivamente: "Perdão, senhor, o que faz por aqui?". Ele procura percevejos. E muitos não podem crer.
Percevejo-das-plantas edessa rufomarginata, Ccosta Rrica
O zoólogo Rabitsch é um dos poucos especialistas do mundo que se dedicam apaixonadamente a esse grupo de animais, em geral tão desprezado. O pesquisador sabe que a maioria das pessoas sente repentina coceira só de pensar nesses insetos de seis pernas, com suas glândulas de cheiro e seu aparelho bucal furador e sugador. Pois a palavra percevejo é associada, em geral, a um único tipo: o cimex lectularius, o percevejo-de-cama, dos colchões velhos e noites de pesadelo com a ação desses animais.
Mas essa é uma associação muito simplista. No mundo todo são conhecidos aproximadamente 40 mil tipos de percevejos, e é provável que existam pelo menos mais umas 20 mil espécies, até agora desconhecidas. Elas podem ser encontradas em todos os lugares - árvores, pântanos, mares e desertos. A maioria vive nos trópicos e subtrópicos. Em toda a Europa Central apenas 1.100 tipos têm seu habitat natural.
Sejam redondos, ovais ou achatados, de três milímetros a onze centímetros de tamanho, vermelho-fogo ou com padrão de cor em forma de rede, Rabitsch os ama por igual. É "porque eles têm uma aparência tão bonita, alguns até um perfume sedutor, parecido com pera, cereja, canela...", ele diz. Um capricho? Um entusiasmo exagerado? O "percevejólogo" apaixonado faz propaganda engajada para que haja interesse por seus sujeitos de pesquisa, os heterópteros, os "de asas diferentes", como os percevejos são chamados cientificamente, devido a suas asas dianteiras metade duras como couro, metade finas como membranas. Não faz muito tempo o percevejo lygaeus equestris foi eleito o "inseto do ano", e quem abre os olhos pode realmente descobrir um reino cheio de sensações que poucos notam.
Que outro ser vivo tem a capacidade, por exemplo, de duplicar seu próprio peso corporal em questão de minutos, apenas sugando seu alimento por uma tromba?
Rabitsch já o viu inúmeras vezes: de uma folha achatada surge um inseto redondo e cheio, não de sangue, como muitos acreditam, mas, na maioria das espécies, de suco de seiva. Alguns tipos, como o aradus depressus, se alimentam de cogumelos. Os reduviidae - percevejos-predadores - sugam outros insetos. E bem poucas espécies, como o percevejo-de-cama, bebem o sangue de mamíferos ou de pássaros.

Existem pelo menos 40 mil tipos de percevejos. Eeles vivem em toda parte: pântanos, mares e desertos
Para não se tornarem vítimas de predadores, os percevejos se aperfeiçoaram na arte da camuflagem. Os percevejos-fogo, com seu desenho vermelho e preto, de aviso, revelam-se artistas na encenação. Fingem ser venenosos. "Aparecendo em massa, reforçam esse efeito de sinalização de perigo", diz Rabitsch. E se isso não for suficiente para deixar perplexos os leitores versados em ciências naturais, que conhecem esse modo de agir em outros grupos de animais, há, ainda, outra impactante afirmação. Os percevejos, explica o especialista, são os únicos insetos que podem viver lá longe, em mar aberto.
O zoólogo Hans-Jürgen Hoffmann ainda se admira com isso. Ele é o editor do Heteropteron, uma publicação informativa do grupo de trabalho de pesquisadores de percevejos da Europa Central, e orgulhoso proprietário de uma coleção de centenas de milhares de percevejos.
Esse jovem percevejo-das-plantas, com coloração notória, traz, como todas as larvas de percevejo, as minúsculas aberturas de suas glândulas de cheiro no lado superior do abdome segmentado. Ddelas ele expele uma secreção malcheirosa ou venenosa, em caso de perigo
A cópula, na maioria dos percevejos, ocorre em posição antagônica, na qual os parceiros se tocam apenas com o abdome, colocando suas cabeças em direções opostas.
Após o acasalamento, as fêmeas põem os ovos preferencialmente em suas plantas hospedeiras e protegem a ninhada de ovos e, depois, as crias, até o seu estado de larva, com todo o empenho
Os percevejo da espécie halobates, os "doidos" corredores sobre a água do mar, estão entre os queridos de Hoffmann. Intriga-o, principalmente, a forma como fêmea e macho se encontram entre as ondas montanhosas, reproduzem-se e perpetuam. "Possivelmente os machos esperam por uma onda especialmente alta, procuram lá de cima por uma fêmea e, assim que a avistam, surfam em sua direção." De fato, só é possível fazer especulações sobre a procura de parceiros no caso desses percevejos.
O Graphosoma lineatum, Eeuropa Central
É provável que dois indivíduos em busca de parceiros se encontrem com a ajuda de seus olhos muito bem-formados. Ou, ainda, que se reconheçam por meio de abalos característicos na superfície da água.
É dessa forma que, por exemplo, os percevejos aquáticos, bem mais conhecidos, percebem parceiros, presas ou predadores, fazendo uso de órgãos sensoriais em suas pernas.
Parece certo que, das 47 espécies conhecidas de halobates corredores na água do mar, cinco perambulem constantemente sobre as ondas do mar aberto. Essas vivem exclusivamente nas proximidades da linha do Equador e se alimentam de ovas de peixe, zooplânctons, águas-vivas mortas e insetos trazidos pelo vento, que sugam com sua tromba furadora. Além disso, as fêmeas põem seus ovos em material de arribação.
Não importa se são penas de pássaros, pedaços de isopor, grumos de alcatrão, casas de caramujos ou cadáveres de aves marinhas: as senhoras percevejo não podem ser seletivas, diz Lanna Cheng da Scripps Institution of Oceanography em La Jolla, na Califórnia, uma pesquisadora que se especializou nesses percevejos halobates.
"Durante uma expedição encontramos mais de 70 mil ovos em cima de um botijão plástico vazio de leite." A bióloga também descobriu que esses percevejos corredores se protegem dos raios UV prejudiciais com uma substância especial, enriquecida em seu esqueleto externo. "Talvez algum dia possamos desenvolver a partir daí um superbloqueador solar."
Wolfgang Rabitsch está bem distante de tais metas extravagantes. Pesquisadores tradicionais de percevejos como ele têm preocupações bem diferentes, como aquelas que dizem respeito às novas gerações. "A geração atual está velha demais", diz o zoólogo vienense. Falta dinheiro, empregos e os meios auxiliares básicos: livros de classificação. "Quem está começando hoje, tem de juntar sozinho e com dificuldades todas as informações." E existem coisas realmente dramáticas para serem pesquisadas, por exemplo, a técnica sexual inusitada dos percevejos-de-cama.

Os machos dessa espécie, pertencente aos percevejos achatados, têm um pênis em forma de adaga, que não introduzem na abertura sexual da fêmea, mas o enfiam lateralmente no abdome. "Inseminação traumática" é o nome que se dá a essa prática. Dessa forma, segundo Rabitsch, é impedido que um concorrente elimine da fêmea os espermas de seu antecessor - como costuma ocorrer entre os insetos.
Como os halobates se encontram entre as ondas montanhosas dos oceanos e se reproduzem - eis um enigma
O percevejo-couro mozena lurida, da Costa Rica faz jus à sua denominação de heteróptero, ou seja, "de asas diversas". Ssuas asas dianteiras não têm uma composição única, mas são endurecidas em cima, embaixo membranosas e entretecidas de artérias
Na Europa Central: o percevejo-de-cama cimex lectularius vivia originariamente com morcegos, mas foi habitar com os homens da Idade da Pedra, que buscavam refúgio nas cavernas - e desde então incomoda o homo sapiens.
Percevejos-fogo formam geralmente um grande amontoado para reforçar o efeito de sua cor de sinalização. Ttambém é um percevejo corredor d'água, carregado pela tensão superficial de seu habitat
Também outros machos de percevejos fazem de tudo para garantir a sua paternidade. Assim, por exemplo, os machos halobates se deixam carregar horas, até dias a fio, pelas fêmeas após a cópula, a fim de manter a concorrência à distância.
O apiomerus pictipes, Costa Rica
O mais tardar, na criação da prole, em algumas espécies, também os machos são exigidos, como entre os belostomatídeos dos trópicos ou os percevejos aquáticos gigantes. Nesse caso, as fêmeas põem todos seus ovos nas costas de seu marido percevejo. Daí em diante, os pais emergem frequentemente, a fim de arear os ovos, e imergem novamente, para que a prole não seque.
Os percevejos aquáticos gigantes, com até onze centímetros, têm um predador especial: o cozinheiro. Ele os considera os mais saborosos dos quase 100 tipos de percevejos comestíveis. "Paella com percevejos aquáticos gigantes da Tailândia", "percevejos aquáticos recheados", "ovos de percevejos aquáticos em alho" - as combinações são variadas.
Percevejo-manchador do algodão do gênero dysdercus, Malásia
Aguns tipos de percevejo acabam nos terrários dos laboratórios de pesquisa. Principalmente aqueles que são fáceis de criar. Por exemplo, o percevejo-fogo europeu, pyrrhocoris apterus, que com frequência é erroneamente denominado de "escaravelho do fogo". Ele alcançou uma importância desconhecida da maioria das pessoas: a ciência deve a ele a descoberta do cromossomo X.
Em 1891, o zoólogo alemão Hermann Henking constatou, durante pesquisas sobre a espermatogênese e o desenvolvimento de óvulos em percevejos-fogo, que a metade dos espermas contém uma estrutura adicional. A essa estrutura ele deu o nome de "X", pois não tinha certeza se se tratava de um cromossomo ou não. Apenas 20 anos mais tarde foi reconhecida a importância do cromossomo X para a determinação genotípica do sexo.
Também a descoberta do assim denominado "fator papel" ocorreu com o auxílio do percevejo-fogo. Trata-se aqui de um fenômeno que impede os insetos de se tornarem adultos, descoberto pelo entomologista tcheco Karel Sláma nos anos 60 do século passado em um laboratório da Universidade de Harvard. Os percevejos-fogo, que ele havia trazido com ele, trocavam agora não apenas cinco vezes de pele, como usualmente, mas constantemente. A última ecdise da larva ao animal adulto foi evitada por alguma razão.
Após vários experimentos, Sláma resolveu estudar a fundo o papel, com o qual forrara os seus terrários. Qual não foi sua surpresa quando verificou que suas crias cresciam normalmente em papel europeu, mas em papel americano permaneciam eternamente jovens ou até morriam.
O pesquisador descobriu que o papel americano é fabricado a partir da madeira do abeto balsâmico - um tipo de árvore que, para defesa contra inimigos predadores, produz uma substância similar a um hormônio, provocando a ecdise dos insetos. Dessa forma, Sláma não descobriu apenas a causa para suas tentativas malogradas de criação, mas também um princípio ativo para o combate de parasitas - graças ao percevejo-fogo.
Na medicina, já cedo os representantes heterópteros se fizeram conhecidos - se bem que de forma duvidosa, como relata o zoólogo Hans-Jürgen Hoffmann.
Para respirar, o percevejo ranatra linearis mantém fora da água seu tubo de respiração fixado no final do corpo, enquanto fica à espreita de sua presa com suas pernas dianteiras de captura
O médico grego Pedanius Dioscórides escreveu, no século I d.C., que percevejos-de-cama esmagados, introduzidos na uretra, aliviavam espasmos do ureter. O naturalista Plínio, o Velho mencionava percevejos-de-cama como remédio contra hipersonia e picadas de cobra, e ele acrescentava, respeitoso: "Assim, a mãe Natureza concedeu até às menores criaturas forças incomensuráveis." Ainda hoje, cientistas como o biomédico Ralf Hoffmann confiam nessas forças naturais.
Com seu colega Laszlo Otvos, da Universidade de Temple, na Filadélfia, o chefe da equipe de trabalho em bioanalítica, da Universidade de Leipzig, procura por novos antibióticos - dentre outros, com base em percevejos. Como em todos os insetos, o sistema imunológico desses animais não trabalha com anticorpos, mas com peptídeos muito eficazes, antibacterianos.
Com essas sequências de albumina pretende-se desenvolver substâncias ativas que protejam contra infecções e que possam neutralizar os clones de bactérias resistentes. A demanda por essas substâncias é enorme, já que cada vez mais as bactérias ficam imunes aos antibióticos usuais, diz Hoffmann. Em aproximadamente dez anos, considera o professor, os peptídeos de insetos poderão estar prontos para produção.
Larva de um percevejo-das-plantas, Costa Rica
Na medicina veterinária, já hoje em dia os percevejos são aplicados com sucesso: eles tiram sangue de animais de zoológicos, de laboratório ou de animais selvagens ameaçados. Esse procedimento é bem menos estressante para os animais de teste do que trabalhar com as agulhas comuns, pois as trombas dos percevejos têm apenas um trigésimo da espessura dessas agulhas, diz Christian Voigt, do Instituto Leibniz para Pesquisa Zoológica e de Animais Selvagens, em Berlim. Isso também elimina a necessidade de anestesiar animais maiores.
De acordo com o estado de larva em que os percevejos se encontram, os cientistas dispõem de cinco agulhas vivas: os menores percevejos sugam aproximadamente 0,1 mililitro de sangue, as maiores, até quatro mililitros.

Os machos dos percevejos-de-cama têm um pênis em forma de adaga, que eles empurram lateralmente no abdome de suas fêmeascom
Fim de um besouro vaquinha: primeiro, o percevejo-das-plantas predador (acima) o espetou em sua tromba, que serve de anzol. Agora, ele mantém a vítima longe da superfície da folha, para sugá-la
Percevejos-de-cama chegam à Eeuropa introduzidos nas bagagens
O notonecto carrega com ele a provisão de ar armazenada no abdome, o que lhe permite sobreviver em ambientes aquáticos. Eeste exemplar foi fotografado através de um vidro de aquário. Eele se reflete na superfície da água
Ao lado de pássaros, roedores e macacos, ultimamente os linces-ibéricos ameaçados de extinção fazem parte dos pacientes de Voigt. Com o auxílio da retirada de sangue pelos percevejos, os cientistas examinam, por exemplo, os valores hormonais, a fim de averiguar a ocasião ideal para a reprodução desses animais. "Os linces ficam deitados em uma placa de cortiça, na qual fizemos um buraco de cinco centímetros", explica Christian Voigt ao descrever o seu método patenteado. Nesse buraco coberto com gaze se encontra um percevejo-predador (reduviidae) faminto, que geralmente parte para a ação, sem que o lince se dê conta de qualquer coisa. "Em seguida, a cabeça do percevejo é furada com uma agulha e o sangue é retirado."
A gulha viIva, matador de bactérias ou prato principal saboroso: os percevejos se revelam um produto potente - que, contudo, não traz apenas coisas boas. Na América Central e do Sul, o barbeiro, da subfamília triatomina, transmite a tripanossomíase, ou doença de Chagas - depois da malária e esquistossomose, a maior incidência de doenças transmitidas por parasitas. Segundo dados da OMS, existem mais de 18 milhões de pessoas infectadas.
o percevejo do algodão, da espécie dysdercus, Malásia
Outros tipos de percevejos chgam à Europa Central e atacam culturas de cereais ou plátanos, como o "percevejo-laço" corythucha ciliata, trazido nos anos 60 do século passado da América do Norte. Também o notório percevejo-de-cama está de volta como parasita hematófago.
Culpa disso está na crescente vontade de viajar, diz Heinz Mehlhorn, da Heinrich-Heine-Universität, de Düsseldorf. Uma vez contrabandeados na mala ou na mochila, os animais se escondem atrás de rodapés, papel de parede ou tomadas e, atraídos pelo calor do corpo e pela respiração de seus co-habitantes humanos, fazem-lhes visitas noturnas, a fim de lhes sugar o sangue por meio de inúmeras pequenas picadas.
Em geral, as picadas de percevejos- de-cama, com a vermelhidão típica do tamanho de percevejos, os preguinhos de cabeça achatada, não são perigosas, mas incômodas. A intensa comichão, em combinação com o cheiro penetrante no quarto, provoca, segundo Heinz Mehlhorn, "tortura dupla" - acabando, provavelmente também no futuro, e injustamente, com a boa reputação de todo o clã dos percevejos.



A beleza dos Percevejos


Por Christine Heidemann (TEXTO) e Ingo Arndt (FOTOS)


Christine Heidemann e Ingo Arndt já produziram diversas histórias sobre pequenos rastejadores. Em busca de percevejos, desta vez o fotógrafo percorreu habitats na Costa Rica e na Malásia. A autora teve seu encontro mais intenso com percevejos não na Europa, mas ao norte do Laos, onde percevejos aquáticos gigantes são oferecidos em grandes tigelas como iguaria fina.
Christine Heidemann e Ingo Arndt já têm várias reportagens produzidas sobre pequenos insetos. Em busca desses animais o fotógrafo foi, desta vez, principalmente para seus habitats tropicais na Costa Rica e na Malásia. Já a colaboradora de GEO teve intenso encontro com percevejos não na Europa, mas no norte do Laos, onde grandes bacias com esses bichinhos são oferecidas para venda como fina iguaria
Fonte: http://revistageo.uol.com.br/cultura-expedicoes/2/artigo134603-1.asp.

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